O que pensam os 'marineiros': ex-ministra tem bom desempenho entre tradicional eleitorado do PT

Pré-candidata da Rede é líder entre negros, pardos e indígenas, revelam pesquisas

por Igor Mello, Aura Mazda*, Patricia Comunello*, Efrém Ribeiro* e Tiago Aguiar**

Ana Caroline Jesus, moradora da Zona Leste de São Paulo e eleitora de Marina - Marcos Alves / Agência O Globo

RIO, SÃO PAULO, NATAL, TERESINA e PORTO ALEGRE — Enquanto candidaturas de esquerda lutam pelos votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está preso desde abril, Marina Silva (Rede) cresce sobre o espólio petista. De acordo com a última pesquisa do Datafolha, a ex-ministra do Meio Ambiente lidera no eleitorado tradicionalmente do PT : marca 19% das intenções de voto entre os eleitores mais pobres, com renda de até dois salários mínimos, e tem 17% entre aqueles que só completaram o ensino fundamental.

O voto em Marina também tem um forte componente de gênero. Ela chega a 20% entre as mulheres, muito acima dos demais concorrentes nos cenários sem Lula. A identificação, segundo a professora primária Rafaela Silva, de 23 anos, tem a ver com representatividade.

— Achava que Marina era uma liderança feminina em potencial. Quando comecei a acompanhá-la de perto, em 2014, passei a ser sua eleitora — resume a moradora de São Gonçalo.

A cor da pele também influencia o grupo de “marineiros”. Com apenas 11% das intenções de voto entre os eleitores que se declaram brancos, é a número um entre negros e pardos (com 18% entre ambos), e também entre os indígenas, entre os quais atinge 19%. Ex-senadora pelo Acre, Marina tem no Norte seu melhor desempenho regional, com 22% do eleitorado.

Marina também lidera a disputa nas cidades com mais de 500 mil habitantes. Nessas regiões, conquista eleitores com viés mais ideológico, insatisfeitos com a polarização entre PT e PSDB. É o caso do professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Manuel Rolph Cabeceiras, de 57 anos, morador de Niterói.

— Sou defensor convicto da alternância de poder. Desde o primeiro mandato do Lula, busco alternativas — diz Rolph.

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Rafaela Silva, 23 anos

Rafaela Silva, professora de educação infantil em São Gonçalo (RJ) - Fábio Guimarães / Agência O Globo

A professora Rafaela Silva milita pelas candidaturas de Marina Silva desde 2014, quando votou na ex-ministra pela primeira vez. Marina representa, diz, uma oportunidade de acabar com o Fla-Flu que tomou conta da política:

— Não acredito mais nessa fórmula antiquada, de que existem só dois lados.

Para Rafaela, boa parte das críticas recebidas por Marina tem origem no machismo, como a de que seria indecisa:

— Há uma tentativa de desqualificá-la por ser uma candidata competitiva.

Charly Sanches, 22 anos

Charly Sanches, estudante de ciências ambientais em macapá - Reprodução

Respeitar a diversidade de cada região do país é fundamental para um candidato. Essa é a visão do estudante de ciências ambientais da Universidade Federal do Amapá Charly Sanches, morador de Macapá e vindo de comunidades ribeirinhas da região das Ilhas de Marajó, no Pará.

Ele acredita que Marina vai valorizar diferentes povos:

— O modelo de desenvolvimento voraz na Região Amazônica já destruiu patrimônio ambiental, massacrou culturas e aumentou a desigualdade social.

Kaká Werá, 54 anos

Kaká Werá, ambientalista indígena, morador de São Paulo - Paulo Nicolella / Agência O Globo

Nascido na periferia de São Paulo, indígena com pais tapuias de uma aldeia de Minas Gerais, Kaká é fundador de uma ONG de difusão dos saberes indígenas e ambientalista. Hoje está filiado à Rede, já concorreu a cargos públicos pelo PV e pode ser candidato novamente.

— O compromisso profundo com a sustentabilidade, o conhecimento sobre a realidade dos povos da Amazônia (inclusive os indígenas) e o fato de ser mulher são os três principais motivos do meu voto em Marina — diz ele.

Carlos Eduardo Francisco da Silva, 43 anos

Carlos Eduardo Francisco da Silva, criador de uma cooperativa que recicla óleo na baixada (RJ) - Fábio Guimarães / Agência O Globo

Carlos Eduardo Francisco da Silva, mais conhecido como Dudu do Óleo em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, onde mora, diz que foi eleitor petista durante os governos de Lula e Dilma. Criador de uma cooperativa de reciclagem de óleo na cidade, ele decidiu apostar em Marina Silva depois de conhecê-la em um evento em Brasília:

— Eu me identifiquei muito porque ela dá muita atenção ao meio ambiente. Ela é centrada e preocupada com a pobreza — explica ele, que cursou o ensino fundamental.

Ana de Jesus, 25 anos

Ana de Jesus, evangélica, desempregada e moradora da periferia de SP - Marcos Alves / Agência O Globo

Ana de Jesus, de 25 anos, diz que se identifica com Marina pelo fato de a presidenciável ser mulher e evangélica. Moradora de Guaianases, no extremo leste de São Paulo, Ana frequenta a Igreja Brasil para Cristo. Sem formação superior, ela está desempregada há dois anos e cuida de dois filhos. Ana votou em Marina em 2010 e em 2014, mas não acredita que ela tenha chances de vencer as eleições. Se Marina não for candidata, ela votará nulo.

— Ela tem boas ideias, mas aparece pouco na mídia.

Rodrigo Medeiros, 22 anos

Rodrigo Medeiros, estudante de engenharia química em natal (RN) - Bruna Justa

A origem popular foi o primeiro ponto de identificação do estudante de engenharia química Rodrigo Medeiros com Marina, ainda em 2010, quando não tinha idade para votar. Mas foi o discurso voltado para políticas de sustentabilidade que firmou sua opção pela ex-ministra:

— Não que ela seja perfeita. Mas é a única que mostra de maneira clara um modelo alternativo de desenvolvimento, sem precisar tanto investir em obras que tragam malefícios — diz ele, que cresceu nas Rocas, periferia de Natal.

Tailor Alves Gonçalves, 21 anos

Tailor Alves Gonçalves, frentista de canoas, região metropolitana de Porto Alegre - João Mattos / Agência O Globo

Tailor sentiu na pele os efeitos da greve dos caminhoneiros, com falta de produto e filas, mas não culpa a categoria. Para ele, faltou pulso firme do presidente Michel Temer em resolver rapidamente o problema. O que reforçou sua convicção de que Marina é sua candidata:

— Gosto da firmeza dela. Outros políticos escondem o jogo, ela dá a cara a bater. Isso mostra caráter — diz Tailor, que tenta terminar o Ensino Médio para cursar uma faculdade e diz que saúde deve ser prioridade do país.

Jean Marcelo Rocha Lima, 39 anos

Jean Marcelo Rocha Lima, motociclista de Teresina que perdeu renda com a crise - Efrém Ribeiro

Morador de Angelim, Zona Sul de Teresina, o motociclista Jean Marcelo Rocha Lima é pai de três filhos e ganha R$ 1,2 mil por mês, mas lembra que, antes da crise, esse valor chegava a R$ 2,5 mil.

Eleitor de Marina em 2014, vai repetir o voto neste ano:

— Eu voto em Marina por identificação porque ela é negra, eu também sou negro. Quer melhorar o Brasil, quer dividir o dela com os pobres, não é como os outros que querem dividir entre eles mesmos, querem botar no bolso deles. É por isso.

Manuel Rolph Cabeceiras, 57 anos

Manuel Rolph Cabeceiras, historiador e professor universitário do Rio - Fábio Guimarães / Agência O Globo

O historiador da UFF Manuel Rolph Cabeceiras, de 57 anos, diz ver na pré-candidata a possibilidade de mudança na política:

—Sou um defensor convicto da alternância de poder. Quando a Marina apareceu, me interessei pelas propostas dela.

Rolph também rebate as críticas de que Marina não participa ativamente dos debates sobre país.

— Como ela não tem mandato, acaba ficando afastada da cobertura da imprensa. Por isso, muita gente cai nessa conversa de que ela fica ausente .

(*Especial para O GLOBO), (**Estagiário sob supervisão de Leandro Loyola).