Jornalista que sempre teve bom trânsito no meio musical, Preto sutilmente apresentou a Gal entre 2013 e 2014 a possibilidade de um outro álbum de estúdio com repertório de músicas inéditas, desta vez compostas por nomes da nova geração. Esse álbum, intitulado Estratosférica e lançado em maio de 2015 com ótima aceitação, manteve Gal conectada com a produção musical contemporânea do Brasil e com um público jovem, antenado, dando continuidade ao movimento de renovação articulado por Caetano no início da década.

O movimento prossegue neste ano de 2018. Lançado ontem, 25 de maio, com produção de Pupillo Oliveira, o single Palavras no corpo faz Gal ecoar o som black romântico da cantora inglesa Amy Winehouse (1983 – 2011), de quem a verdadeira baiana é admiradora. Primeira parceria de Silva com Omar Salomão, conexão promovida por Preto, Palavras no corpo sinaliza que vem aí pela gravadora Biscoito Fino, no início de agosto, um vigoroso segundo álbum gravado em estúdio por Gal sob direção de Preto. A primorosa mixagem da faixa dá frescor ao canto de Gal, posto em primeiro plano na gravação.

Gal Costa não é a única a seguir caminhos artísticos apontados por Marcus Preto. Atualmente com 45 anos, Preto vem se consolidando nos últimos anos como diretor artístico, tendo tido participação fundamental nas criações de álbuns de Erasmo Carlos e Paulo Miklos, geralmente com resultados inspiradores e revigorantes para as carreiras fonográficas dos artistas. O álbum de Erasmo, ...Amor é isso (2018), saiu na semana passada e se impôs instantaneamente como um dos melhores títulos da discografia do cantor e compositor carioca. Já o ex-Titãs também se mostrou renovado no terceiro álbum solo, A gente mora no agora (2017), lançado no ano passado com parcerias inéditas, inclusive uma de Miklos com Erasmo.

Há alguns traços comuns entre estes três álbuns que ajudam a caracterizar o trabalho de Marcus Preto como diretor artístico. Um deles é a articulação de parcerias entre artistas de diversos estilos e/ou gerações, o que faz o disco ser notícia ao mesmo tempo em que abre possibilidades musicais. Foi Preto, por exemplo, quem ergueu a ponte a entre Erasmo e o rapper paulistano Emicida, que já fizeram duas músicas juntos, uma (Termos e condições) para o disco do Tremendão e outra (Abre-alas do verão) para o próximo álbum de Gal.

Outro ponto em comum é o caráter inteiramente inédito dos repertórios. Erasmo, Gal e Miklos gravam músicas inéditas sem o recurso por vezes fácil (e por vezes perigoso) de fazer sobressair no repertório a regravação de um ou outro sucesso alheio para chamar atenção para o disco e, ao mesmo tempo, diluir o ar de novidade desse repertório com ranços saudosistas. Chega de saudade! Sob a direção de Preto, Erasmo, Gal e Miklos olham somente para a frente.

O terceiro traço em comum é mais subjetivo. Trata-se da motivação que parece ter pautado Gal no canto de Palavras no corpo, Erasmo na criação do álbum ...Amor é isso e Miklos na gravação de A gente mora no agora. Estimulados por Preto, os artistas parecem dispostos a arriscar mais, a sair da zona de conforto (sobretudo Gal).