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Por Alexander Grünwald — São Paulo

Neste domingo, pouco antes das 13h, a tradicional ordem para que os pilotos liguem seus motores ecoará nos alto-falantes de Indianápolis pela 102ª vez desde 1911. Por trás do aguardado “ladies and gentlemen, start your engines” (“senhoras e senhores, liguem seus motores”), há 33 histórias alinhadas no grid do oval mais famoso do planeta, incluindo as de três brasileiros e de uma mulher que quebrou barreiras nas pistas. Veja o que esperar das 500 Milhas de 2018.

Aguenta? Bebe leite!

O que não falta na Indy 500 é tradição. E segui-las à risca é algo que os americanos gostam – e fazem – muito bem. A começar pela data da prova, que coincide com o Memorial Day, um feriado nacional que homenageia aqueles que perderam a vida servindo às Forças Armadas norte-americanas.

Tradição: Takuma Sato se esbalda com o leite dado aos vencedores das 500 Milhas Indianápolis, em 2017 — Foto: Reuters

Mas a maior delas, nesta prova, é o leite destinado aos vencedores. Tudo começou em 1933, quando Louis Meyer pediu uma garrafa para matar a sede após sua vitória. Uma companhia local viu uma oportunidade de publicidade e passou a oferecer o produto aos campeões da Indy 500 nos anos seguintes, o que se tornou uma marca da corrida.

Tanto que Emerson Fittipaldi provocou a ira de alguns “torcedores raiz” ao beber suco de laranja produzido em sua fazenda na comemoração de sua segunda vitória, em 1993. O leite ficou para a conferência de imprensa, alguns minutos depois.

Emerson Fittipaldi bebe suco de laranja no pódio das 500 Milhas, em 1993 — Foto: Getty Images

Outra tradição de Indianápolis é o anel presenteado aos vencedores. Ostentar um desses no dedo é sinal de status para sempre no mundo do esporte, não apenas no automobilismo.

Brasileiros em ação

Os brasileiros têm uma grande tradição nas 500 Milhas de Indianápolis. Tudo começou com a primeira vitória de Emerson Fittipaldi, em 1989, feito que ele repetiria em 1993. Mas se amplificou com a trinca de Helio Castroneves em 2001, 2002 e 2009. Gil de Ferran faturou a corrida em 2003, seu último ano como piloto. Já Tony Kanaan venceu em 2013.

Helio Castroneves com o anel presenteado aos vencedores da Indy 500 — Foto: Chris Trotman/Getty Images

Em 2018 serão três representantes brasileiros na corrida mais famosa do planeta, em momentos bem distintos de suas carreiras.

Helio: em busca do quarto anel

O piloto nascido em Ribeirão Preto tem uma história especial com esta pista. Logo em sua primeira participação, em 2001, Helinho venceu a prova, repetindo a dose em 2002. Quase faturou o tri em 2003, mas foi surpreendido pelo seu companheiro na Penske, Gil de Ferran, nas voltas finais, e terminou em segundo.

Indy 500 - Helio Castroneves nos treinos para as 500 Milhas de Indianápolis de 2018 — Foto: Chris Graythen/Getty Images

Em 2009, após passar alguns meses detido por um processo de evasão fiscal, o piloto foi liberado para correr pouco antes dos primeiros treinos. Helio fez a pole e venceu a prova pela terceira vez. Em 2018, aos 43 anos, o desafio será diferente: pela primeira vez, Helinho disputará as 500 Milhas sem correr a temporada regular da Indy. Atualmente ele faz parte do esquadrão da Penske no IMSA, a principal categoria de protótipos dos EUA. Convidado para esta prova, ele sairá na oitava posição.

Tony: a terra prometida

Poucos pilotos tiveram uma vitória na Indy 500 tão comemorada pelos adversários quando este baiano de 43 anos criado em São Paulo. Em 2013, após vários anos competindo em times de ponta, Tony estava em uma equipe modesta, a KV, e não figurava entre os favoritos. Mas não era só isso: somando todas as suas participações anteriores, o campeão de 2004 já havia liderado mais voltas do que a distância completa da corrida, que tem 200.

Tony Kanaan em venceu as 500 Milhas em 2013 — Foto: Getty Images

Ao assumir a ponta na penúltima volta daquela prova, ele se beneficiou de uma bandeira amarela provocada por um acidente e enfim garantiu seu primeiro anel. Cinco anos depois, Kanaan está novamente em uma equipe menor, a Foyt, e pinta como um azarão na briga pela vitória. Para quem acredita em coincidências, é um prato cheio. Ele larga em décimo lugar, mas foi o mais rápido no último treino livre para a corrida, realizado na tarde da sexta-feira.

Matheus: vivendo o sonho

Imagine-se com 19 anos de idade, voando a mais 360 km/h rente aos muros do oval mais famoso do planeta, tendo como patrão uma das maiores lendas do esporte que você escolheu com profissão. Esta é a situação de Matheus Leist, o gaúcho que faz sua estreia na Indy 500 em 2018 pela equipe de A.J. Foyt, recordista de participações (35) e quatro vezes vencedor desta corrida.

Reis do zoeira: Tony Kanaan, 43 anos, e Matheus Leist, 19: companheiros na equipe Foyt — Foto: Rodrigo França / RF1

Em 2017, este gaúcho de Novo Hamburgo estava na Indy Lights, a divisão de acesso da Fórmula Indy. Em sua primeira experiência em um circuito oval, ganhou a Freedom 100, prova de 100 milhas que é a principal preliminar da Indy 500. O desempenho chamou atenção de Foyt, que não tirou os olhos do garoto até contratá-lo. A aventura em 2018 já começou bem: Matheus é o melhor estreante no grid, em 11º.

Pietro: ausência dolorida

O quarto integrante deste time verde e amarelo está fora das pistas, na torcida pelos outros brasileiros. Depois de se acidentar em uma etapa do Mundial de Endurance, em Spa-Francorchamps, Pietro Fittipaldi quebrou as pernas e segue em recuperação em Indianápolis, com médicos especializados em traumas relacionados ao automobilismo. O piloto, que disputaria a corrida em um carro da equipe Dale Coyne, será substituído pelo canadense Zachary Claman DeMelo.

Maiores vencedores

Se vencer em 2018, Helio Castroneves vai entrar no seleto grupo de recordistas de vitórias da Indy 500. Ele é o único piloto em atividade capaz de igualar esta marca, que hoje é dividida entre três ícones do automobilismo dos Estados Unidos: A.J. Foyt (vencedor em 1961, 64, 67, 77), Al Unser Sr. (1970, 71, 78, 87) e Rick Mears (1979, 84, 88, 91).

Encontro de lendas: Al Unser Sr. ao volante do Marmon Wasp, primeiro carro a vencer as 500 Milhas de Indianápolis, em 1911 — Foto: Chris Graythen/Getty Images

O adeus de Danica

As 500 Milhas de 2018 marcam a despedida de uma competidora muito famosa nos Estados Unidos e em todo o planeta: Danica Patrick, que em 2008 se tornou a primeira – e, até hoje, a única – mulher a vencer uma corrida na Fórmula Indy. Aos 36 anos, com mais de 100 corridas de Indy e 200 de Nascar no currículo, ela escolheu a Indy 500 para seu adeus às pistas. E quer ser lembrada como uma mulher que rompeu barreiras no esporte a motor.

Danica Patrick posa ao lado da sua estátua de Lego em Nova York — Foto: Getty Images

- Eu sempre disse que espero que as pessoas se lembrem de mim como um ótimo piloto e uma mulher, e espero que seja nessa ordem. Quero que seja uma daquelas histórias em que você é como uma garota incrível e ótima, e que foi ótimo ver algo assim, algo único e diferente. Eu não quero que você esqueça que eu era uma garotinha, eu estou aqui em grande parte porque sou mulher, apenas tento dar o exemplo – frisou a competidora, que também foi a primeira a conquistar uma pole position na Nascar, justamente na lendária pista de Daytona, em 2013.

Pole “caseira” em Indianápolis

Pela terceira vez, a pole position para as 500 Milhas de Indianápolis ficou com Ed Carpenter, um americano de 37 anos especialista em circuitos ovais. A família Carpenter chegou à região quando ele tinha oito anos de idade, o que contribuiu para que Ed criasse uma relação de amor com o Indianapolis Motor Speedway antes mesmo de se tornar piloto, assistindo a várias edições da Indy 500 das arquibancadas.

Indy 500 - Ed Carpenter é o pole position da edição 2018 das 500 Milhas de Indianápolis — Foto: IndyCar

Grid das 500 Milhas de Indianápolis 2018

Fila Interno Meio Externo
1 1º) 20 - Ed Carpenter 2º) 22 - Simon Pagenaud 3º) 12 - Will Power
2 4º) 1 -  Josef Newgarden 5º) 18 - Sébastien Bourdais 6º) 21 - Spencer Pigot
3 7º) 13 - Danica Patrick 8º) 3 - Hélio Castroneves 9º) 9 - Scott Dixon
4 10º) 14 - Tony Kanaan 11º) 4 - Matheus Leist 12º) 98 - Marco Andretti
5 13º) 19 - Z. Claman DeMelo 14º) 28 - Ryan Hunter-Reay 15º) 23 - Charlie Kimball
6 16º) 30 - Takuma Sato 17º) 32 - Kyle Kaiser 18º) 6 - Robert Wickens
7 19º) 33 - James Davison 20º) 59 - Max Chilton 21º) 29 - Carlos Muñoz
8 22º) 88 - Gabby Chaves 23º) 25 - Stefan Wilson 24º) 24 - Sage Karam
9 25º) 26 - Zach Veach 26º) 64 - Oriol Servià 27º) 66 - J. R. Hildebrand
10 28º) 7 - Jay Howard 29º) 10 - Ed Jones 30º) 15 - Graham Rahal
11 31º) 60 - Jack Harvey 32º) 27 - Alexander Rossi 33º) 17 - Conor Daly

A pista “escolhe” o vencedor?

Criado em Indianápolis, Carpenter sabe muito bem que existe uma mística em torno da corrida mais famosa do automobilismo norte-americano. Reza a lenda que a pista é que "escolhe" seu vencedor. A história centenária da Indy 500 está cheia de casos que ajudam a sustentar esta tese.

Em 2011, por exemplo, a vitória caiu no colo de Dan Wheldon na última curva, quando J.R. Hildebrand errou na entrada da reta de chegada. Dan morreria meses depois, em um grave acidente no encerramento da temporada. Foram as duas únicas provas que ele correu naquele ano.

Dan Wheldon com seu filho Sebastian após a vitória nas 500 Milhas de Indianapolis de 2011 — Foto: Nick Laham / Getty Images

Para os fãs mais ligados nas lendas a respeito deste templo do automobilismo, aquele final de prova foi uma clara interferência da “magia de Indianápolis” no resultado da corrida, que marcava o centésimo aniversário da prova.

Emoção à flor da pele

O filho de Dan fez uma bela homenagem ao pai na semana da Indy 500 deste ano. Em uma gravação para a TV norte-americana, Sebastian Wheldon, de nove anos, andou em um kart e repetiu seu gesto de beijar os tijolos da linha de chegada do mítico oval. A cena emocionou muita gente, já que o garoto tinha apenas dois anos quando o pai morreu.

Sebastian Wheldon homenageia o pai, Dan Wheldon, antes das 500 Milhas de Indianápolis — Foto: IndyCar

Indiana Pacer

Depois de uma grande temporada na NBA, a liga americana de basquete, Victor Oladipo vai pilotar o Pace Car nas 500 Milhas de Indianápolis, um Corvette ZR1. Acostumado a conduzir o time dentro de quadra, o armador do Indiana Pacers vai ser o responsável por guiar os 33 pilotos antes da largada da 102ª edição da tradicional corrida americana.

Victor Oladipo brilha no Indiana Pacers pela NBA — Foto: David Richard / USA Today / Reuters

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