Política

Edifício onde Azeredo está preso em BH foi colégio de Pedro Nava e Afonso Arinos

Do começo do século XX, Academia dos Bombeiros abrigou a sede do Colégio Anglo-Mineiro
Academia dos Bombeiros em Belo Horizonte, onde Azeredo está preso Foto: Divulgação
Academia dos Bombeiros em Belo Horizonte, onde Azeredo está preso Foto: Divulgação

BELO HORIZONTE — O ineditismo da prisão de Eduardo Azeredo (PSDB) não se esgota com o fato de o tucano ter sido o primeiro ex-governador de Minas nem o primeiro da lista dos políticos envolvidos no mensalão tucano a ir para a cadeia. Depois de se entregar à Polícia Civil na última quarta-feira , Azeredo também se tornou o primeiro preso a ficar confinado no histórico edifício da Academia dos Bombeiros em Belo Horizonte, construído em 1913 originalmente como sede do Colégio Anglo-Mineiro – e que teve, entre seus estudantes mais notórios, o escritor Pedro Nava (1903-1984) e o político Afonso Arinos (1905-1990).

Tombado pelo Patrimônio Cultural do município entre 1995 e 1996, o monumento, no bairro dos Funcionários, conta com dois prédios internos, que abrigam, desde 1940, tanto a Academia quanto o Primeiro Batalhão do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. É no primeiro dos três andares do edifício principal, com suas grandes janelas que ornamentam a fachada traçada no estilo do ecletismo arquitetônico do começo do século XX, que Azeredo cumpre a pena de 20 anos e um mês por peculato e lavagem de dinheiro, numa sala de 27 metros quadrados até então utilizada parcialmente pelo comandante da corporação.

— São prédios que se inspiram nos templos gregos, nas catedrais góticas e nos templos egípcios. Eles têm esse caráter monumental que vem da arquitetura da antiguidade, mas com proporções da Grécia, que são menos monumentais — explica Fernanda Borges de Moraes, professora de urbanismo da UFMG.

Foi lá, na atual prisão de Azeredo, que os alunos  internos Afonso Arinos e Pedro Nava, a partir de então grandes amigos até o fim da vida, travaram contato com autores ingleses como Charles Dickens e Lord Byron. Trazidos pelos metodistas europeus, eram escritores até então desconhecidos no Brasil:

— A passagem de Nava pelo Anglo foi muito importante para a formação dele como escritor, pois passa a ter contato com os escritores ingleses, que só começaram a ser difundidos no Brasil bem mais tarde, depois da Segunda Guerra – conta Eneida Maria de Souza, professora de Letras da UFMG.

Outra novidade na cidade trazida pelo Colégio Anglo-Mineiro foi o ensino de educação física e a construção de uma piscina, a primeira de Belo Horizonte. Nas memórias de Nava que endossam os dossiês para o tombamento do prédio, a exigência de um calção de banho era inusitada. Numa cidade sem mar, era artigo raríssimo.

Era um colégio de elite e, como o próprio Pedro Nava escreveu no livro “Chão de Ferro”, “caríssimo como o diabo”. Foi fechado em 1915 e, segundo boatos, por intermédio da Igreja Católica, que detinha as outras duas escolas da cidade. A partir de então, se transformou em Escola Estadual Central até virar, em 1940, sede do Corpo de Bombeiros.

Da presença de Azeredo no local pouco se sabe desde sua prisão — se, por exemplo, tem direito a banhos de sol nos pavimentos internos da Academia. Rege a lei do silêncio entre os militares, que não querem se envolver nas determinações do acordo entre defesa, Polícia Civil e governo do Estado que colocaram Azeredo a um quilômetro de distância do seu endereço residencial e numa das regiões mais nobres da cidade.