Por G1 BA


Sete dos 11 PMs denunciados por envolvimento em morte de jovem devem ir a júri popular

Sete dos 11 PMs denunciados por envolvimento em morte de jovem devem ir a júri popular

A Justiça decidiu que seis dos 11 policiais militares denunciados pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) por suspeita de envolvimento na morte de Geovane Santana Mascarenhas devem ir a júri popular. A decisão, da juíza Gelzi Maria Almeida de Souza, do 1º Juízo da 1ª Vara do Júri, foi divulgada no Diário Eletrônico da Justiça de sexta-feira (23) e cabe recurso.

Geovane desapareceu no dia 2 de agosto de 2014, após uma ação da Polícia Militar em Salvador, e os restos mortais foram encontrados no dia seguinte. O pai dele conseguiu imagens de câmeras de segurança que mostraram o momento em que o rapaz, na época com 22 anos, foi levado por policiais lotados nas Rondas Especiais (Rondesp). O jovem foi foi decapitado, carbonizado, teve duas tatuagens removidas do corpo e os órgãos genitais retirados.

A data do julgamento ainda não foi definida. Pela decisão da Justiça, devem ir a júri popular:

  • Cláudio Bonfim Borges;
  • Jesimiel da Silva Rezende;
  • Daniel Pereira de Sousa Santos;
  • Alan Morais Galiza dos Santos;
  • Alex Santos Caetano;
  • Roberto dos Santos Oliveira.

O G1 errou ao informar em reportagem publicada no dia 26 de março de 2018, que sete policiais foram denunciados pela Justiça pelo assassinato do jovem Geovane Santana Mascarenhas em Salvador. Na verdade, são seis policiais denunciados. A informação foi corrigida às 17h30 do dia 5 de novembro de 2020.

Os demais policiais foram inocentados pela Justiça por "inexistência de indícios suficientes de autoria".

Geovanne Mascarenhas apareceu morto após abordagem da PM — Foto: Imagens/TV Bahia

Os 11 policiais respondem ao processo em liberdade e, conforme a PM, desempenham atualmente funções administrativas. Todos foram denunciados pelos crimes de sequestro, roubo e homicídio qualificado por motivo torpe e sem possibilidade de defesa da vítima. Dos onze, seis policias ainda foram denunciados por ocultação de cadáver.

O G1 não conseguiu contato na noite desta segunda-feira (26) com as defesas dos acusados e nem com o advogado da família de Geovane.

Caso Geovane

Câmeras de segurança registraram abordagem policial antes de jovem desaparecer. — Foto: Reprodução/TV Bahia

Geovane Mascarenhas de Santana, de 22 anos, foi encontrado morto no dia 3 de agosto de 2014, no Parque São Bartolomeu, em Salvador, um dia após desaparecer durante uma abordagem policial. O corpo do rapaz estava sem a cabeça, foi carbonizado e teve duas tatuagens e os órgãos genitais removidas. Imagens de câmeras de segurança registraram a ação dos policiais durante a abordagem.

Foram denunciados pelo MP os sargentos Gilson Santos Dias e Daniel Pereira de Souza Santos, o subtenente Cláudio Bonfim Borges e os soldados Jesimiel da Silva Resende, Jailson Gomes Oliveira, Claudio Cezar Souza Nobre, Fábio Sodré Lima Masavit Cardozo, Jocenilton dos Santos Ferreira, Roberto Santos Oliveira, Alan Moraes Galiza dos Santos e Alex Santos Caetano.

Em setembro de 2017, Jesimiel da Silva Resende foi baleado durante uma tentativa de assalto, na região do bairro de Bom Juá, na capital baiana. Ele foi abordado por dois homens em um carro. Conforme a PM, durante a ação, os criminosos atiraram no soldado e, em seguida, fugiram.

Na época do crime, Jesimiel da Silva chegou a ser preso com Cláudio Bonfim Borges e Jailson Gomes de Oliveira. Os PMs ficaram detidos no Batalhão de Choque da PM, em Lauro de Freitas, região metropolitana da capital baiana, por 60 dias, quando chegou ao fim a prisão provisória.

Em depoimento à época, os PMs afirmaram que o rapaz foi abordado por ter características semelhantes às de um assaltante que teria roubado uma mulher na região da Calçada. Eles sustentaram que levaram Geovane até a mulher, mas ela não o reconheceu como o ladrão e depois disso ele teria sido liberado.

GPS danificado e contradições

Segundo o delegado Jorge Figueiredo, que esteve à frente das investigações, foram solicitadas as informações registradas pelo GPS instalado na viatura, assim como os dados de todas as viaturas empregadas nas escalas de serviços dos dias 2 e 3 de agosto de 2014 e também os nomes de todos os policiais militares que trabalharam nos dois dias. A partir daí, segundo a polícia, foi possível identificar a participação dos outros policiais no crime.

Conforme o DHPP, uma perícia realizada pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT) identificou que a fiação do aparelho GPS da viatura comandada pelo subtenente Claudio havia sido danificada. Com isso, só seria possível verificar o percurso realizado pelo veículo por meio das coordenadas registradas pelo GPS do rádio HT - de comunicação entre viaturas policiais e a Central de Polícia – que não sofreu nenhum tipo de dano.

Com a análise das coordenadas obtidas no equipamento, os investigadores disseram ser possível determinar que a guarnição do subtenente Cláudio encontrou-se com a guarnição formada pelo sargento Gilson e pelos soldados Claudio Cezar, Fábio e Jocenilton, todos a bordo da viatura na Rua Luiz Maria, entre as 17h21min e 17h35min.

Segundo o DHPP, inicialmente, Gilson, Claudio Cézar, Fábio e Jocenilton afirmaram não ter tido nenhum contato com a primeira guarnição, mas voltaram atrás em nova declaração feita um mês depois. No segundo depoimento, eles informaram ter encontrado rapidamente os colegas, apenas para informar ao subtenente a liberação de um deles, que sairia mais cedo do trabalho. O DHPP afirmou que o GPS das viaturas também registrou o deslocamento das duas guarnições de volta à base da Rondesp/BTS, com 7 minutos de diferença.

Ainda conforme o DHPP, o relatório do GPS das viaturas comprovaram que os veículos estiveram na Travessa São Rafael, próximo ao Parque de São Bartolomeu, e no Parque Tecal, no bairro de Campinas de Pirajá, locais onde os restos mortais de Giovane foram deixados, entre 21h e 22h, na mesma noite em que ele desapareceu, após a abordagem.

Por fim, o DHHP afirma que um relatório de serviço, que descreve as atividades desenvolvidas pelas guarnições durante os plantões, assinado pelo subtenente Claudio, entre às 19h do dia 2 até as 2h do dia 3, registra rotas totalmente distintas das obtidas pelo GPS. Em nenhum momento, segundo os investigadores, é citada a mudança de rota das guarnições, que afirmaram ter trafegado apenas em localidades na região da Liberdade, IAPI e Pau Miúdo.

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