30/03/18

Amarante Literatura - Foi em 1924 que o poeta Guilherme Faria apresentou o Henrique Paço D'Arcos a Teixeira de Pascoaes.


(Henrique Paços D'Arcos e Teixeira de Pascoaes)


«Foi em 1924 que o poeta Guilherme Faria apresentou o Henrique Paço D'Arcos a Teixeira de Pascoaes. Ele e os irmãos - o Carlos Eugénio, o Pedro e o Joaquim - passaram a ser assíduos frequentadores da Brasileira do Chiado, onde Pascoaes se reunia com os amigos e admiradores, e da York House onde estávamos instalados. 

O Henrique viria a ser o discípulo bem amado. 

Eis como ele próprio descreve o convívio com o Poeta do Marão, no prefácio do livro «A Voz Nua e Descoberta»: 

«Foi o Guilherme Faria quem nos revelou, a meus irmãos e a mim, os versos de Pascoaes. E para mim foi bem uma revelação. Em breve ele nos apresentou ao Poeta, numa mesa da Brasileira do Chiado onde de futuro por dias sucessivos passámos a abancar, na roda de outros jovens como nós seduzidos pela forte e original personalidade do grande Poeta. 

«À mesma mesa da Brasileira vinha também sentar-se diariamente Raul Brandão, amigo e admirador que era de Pascoaes, que lhe retribuía a admiração e a amizade. 

«Regressado Pascoaes a Amarante, escrevi-lhe uma carta em que lhe dizia da minha enorme admiração e já mesmo estima que lhe votava, carta redigida em termos entusiastas e ingénuos, mas que tiveram o condão de despertar no Poeta o desejo de melhor me conhecer. 

«Daí nasceu uma enorme e recíproca amizade traduzida em mil e uma expressões, desde a correspondência assídua de três ou quatro anos, que religiosamente conservo, e dedicatórias em livros, ao carinhoso acolhimento de todos os seus familiares e sobretudo à imarcessível recordação que guardo do seu grande espírito. 

«No Verão de 1924, Pascoaes convidou-nos, a meu irmão Pedro e a mim, para irmos passar uma temporada a Amarante.» 
(...)
 «Da tertúlia da Brasileira, que continuava a frequentar, faziam ainda parte António Alves Martins, poeta e jornalista prematuramente desaparecido, João Correia de Oliveira e o seu comparsa Francisco Lage, Vitoriano Braga, o velho Gualdino Gomes, António Ferreira Monteiro, os pintores José Luís Brandão de Carvalho, Almeida Coutinho e Tagarro (que começou um retrato meu a óleo não ultimado e de que perdi o rasto), o Manuel Mendes, o António Duarte, por vezes o Ângelo César, descido do Porto, o Manuel de Castro, grande amigo e companheiro constante de Guilherme Faria, e muitos outros que se esfumam na distância do tempo. Entre todos um sobretudo a minha amizade e a minha admiração para sempre destacaram: o grande, querido e jamais esquecido poeta Mário Beirão. 

«O Pascoaes, o Mário e eu passámos a formar uma trindade que todas as tardes descia e subia o Chiado, de braços dados, dificultando o trânsito nos passeios já de si apertados e parando diante das montras, perante as quais Pascoaes quase como uma criança se deslumbrava em confronto com a indiferença do Mário, enrolando paulatinamente o seu cigarro. 

«O Mário havia inventado um personagem a que pusera o nome de Baltazar e quando éramos abordados por alguém que importunamente demorava o nosso passeio, logo o Mário acudia lembrando que tínhamos o nosso amigo Baltazar à espera. Pois não foi uma nem duas vezes, mas inúmeras que Pascoaes, aereamente, se admirava e perguntava: Baltazar? Mas que Baltazar? O que é bem de ver, criava situações confusas que davam lugar a confusas explicações. 

«O meu livro "Divina Tristeza" saíra, se não erro, em Maio de 1925, impresso na "Marânus" do Porto por intervenção de Pascoaes. Com autorização deste, a capa foi ornamentada com a reprodução de um instrumento musical esculpido numa pedra do jardim da sua casa de Gatão, com base num desenho feito pelo pintor António Carneiro e que Pascoaes me cedeu». 
(...) 
«Voltei nesse Verão de 1925 a Pascoaes, onde era tratado como membro da família, gozando da carinhosa amizade de todos, desde a Senhora D. Carlota, mãe do Poeta, até às irmãs, irmãos e sobrinhas e às criadas da casa...» 
(...) 
«Nesse Verão de 1925, meu pai, vindo de Vidago, fez uma visita a Pascoaes. Ainda recordo a noite maravilhosa passada na varanda à luz de um luar de sonho, ouvindo Pascoaes e o meu pai dialogarem com transcendente espiritualidade.»» in Fotobiografia "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.


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