Rio

Dom Orani diz que São Jorge é inspiração para população do Rio vencer obstáculos

Cardeal celebrou missa na igreja matriz de Quintino. Expectativa é que 1,5 milhão de fiéis passe pela paróquia durante todo o dia
Dom Orani abençoa bebê na Igreja de São Jorge, em Quintino Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Dom Orani abençoa bebê na Igreja de São Jorge, em Quintino Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

RIO - No dia do santo guerreiro, o arcebispo do Rio, cardeal dom Orani Tempesta, celebrou, às 10h, a Santa Missa, em Quintino, evocando a força e a garra de São Jorge. Dom Orani afirmou que o santo é uma inspiração para a população do Rio de Janeiro.

—  São Jorge é inspirador para a força que o carioca tem para vencer os obstáculos. Ele teve uma vida inspiradora, que inspira a couraça da fé. Por isso, ele tem essa presença maciça em toda a cidade. Peço a Deus para que a celebração possa inspirar a população a ter coragem para enfrentar tempos difíceis e exigir seus direitos —  afirmou ele.

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Nesta segunda-feira, o cardeal ainda celebra mais duas missas em homenagem ao padroeiro extraoficial da cidade. Às 14h, ele estará na paróquia de Santa Cruz e às 18h, no Centro da cidade.

FOGOS NA ALVORADA

As comemorações pelo Dia de São Jorge começaram cedo e foram marcadas por manifestações de fé e devoção na tradicional Missa de Alvorada na Igreja matriz do santo, em Quintino, Zona Norte do Rio. Celebrada pontualmente às 5h, a missa foi anunciada por fogos de artifício e cornetas e recebida com muitos aplausos. Às 3h30m, os fiéis já lotavam a igreja e as rua em frente — onde foi montado um telão — para a primeira missa de adoração ao santíssimo sacramento. O movimento, no entanto, ficou ainda maior na Missa da Alvorada. Para alguns fiéis, a violência pode ter motivado as pessoas a chegarem mais perto do início da manhã. Eles relataram que houve tiroteio neste domingo em comunidades ao redor, onde existe uma guerra entre traficantes. Antes do início da celebração da missa, no entanto, dom Orani afirmou que a movimentação na igreja está dentro do esperado este ano.

—  É natural que às 3h tenha menos gente. Por conta do feriado, as pessoas querem descansar mais. Quem é devoto mesmo acorda mais cedo. Até o fim do dia, a movimentação será grande em todas as paróquias.

Missa de Alvorada de São Jorge na Igreja de Quintino Foto: Paulo Nicolella / Agência O Globo
Missa de Alvorada de São Jorge na Igreja de Quintino Foto: Paulo Nicolella / Agência O Globo

Segundo a organização, a expectativa de fiéis na igreja de Quintino é de 1,5 milhão de pessoas. A previsão é que, somando o público que vai às paróquias do Centro e de Santa Cruz, o número chegue a 2 milhões.

Selminha Sorriso, porta-bandeira da Beija-Flor de Nilópolis, costuma levar a bandeira da agremiação até a Paróquia de Quintino todo 23 de abril. Este ano, voltou a marcar presença.

— Sou devota de São Jorge, mantenho a fé acesa. Vim agradecer pelo campeonato deste ano, principalmente porque foi um campeonato que falou do povo. São Jorge é um santo de livramento, que protege os caminhos. E o povo brasileiro está precisando de paz — disse.

As comemorações também acontecem na Igreja de São Jorge da Praça da República no Centro, com missas de hora em hora.

— A palavra forte hoje foi esperança. O povo carioca se identifica muito com São Jorge devido a esse dragão que está aí tão forte, que é a violência. Vamos ter esperança que um dia essa cidade maravilhosa vai ser maravilhosa novamente — declarou o padre Dirceu, que celebrou a Missa da Alvorada.

Morador de Bangu, o maqueiro Thiago Lucas foi um dos primeiros a chegar com toda a família. Devoto desde criança, ele passa a devoção para o filho Pedro Lucas, de apenas 4 anos, que o acompanhava na celebração.

— Todo o mês, no dia 23, a gente vem de Bangu para Quintino para assistir à missa de São Jorge. É um amor que não tem explicação, muito forte — diz.

Devoto há 20 anos do Santo Guerreiro, o autônomo Oladir de Paula atribui a recuperação de um grave acidente de carro a São Jorge. Ele também passou esse amor para sua filha, Yasmin, de 14 anos. Desde que alcançou a graça, ele o homenageia com uma festa anual.

— Diante de uma grande dificuldade de saúde me apeguei a São Jorge e nunca mais larguei dele. Agora é moda ser devoto de São Jorge, mas a minha fé não é de hoje. Devo minha vida a ele e procuro retribuir como posso — relata o fiel emocionando, abraçado com o santo.

Incentivada pelo cunhado, a representante comercial Andréa Bellot levou dezenas de fitinhas de São Jorge para serem abençoadas na missa.

— O meu cunhado é um devoto muito fervoroso e desde que entrou na nossa família passou esse amor a todos nós. Sempre gostei de São Jorge, mas não frequentava a igreja. Estou adorando — conta.

Comemorando o aniversário junto com o santo, Jorge Alexandre, além do nome, herdou a devoção de sua mãe.

— Tudo que tenho na minha vida devo a São Jorge — disse.

O segurança Wagner Fonsceca, de 40 anos, tem três tatuagens em homenagem a São Jorge - duas com orações e uma da imagem do santo que preenche as suas costas. Ele virou devoto  quando, cinco anos atrás, sofreu um grave acidente de moto e se recuperou, ficando sem nenhuma sequela. Além de sair com a fé fortalecida, o acidente deu à Wagner uma ocupação que transformou sua crença em ação e solidariedade. Há cerca de quatro anos, ele criou uma página nas redes sociais,onde mantém postagens relacionadas ao santo. Aos poucos, seguidores de todas as regiões Brasil e até do exterior começaram a pedir que ele leveasse oferendas à igreja. Tanta devoção e trabalho em homenagem ao santo renderam a Wagner o apelido de "Capadócia".

- A cada postagem que faço, recebo em média, dois mil pedidos. Toda semana trago para a paróquia cerca de 150,200 oferendas que chegam nos comentários. As pessoas pedem ajudas para resolver problemas financeiros, de saúde, afastar inveje e mal olhado - conta ele.

Na paróquia do Centro da cidade, a movimentação de fieis também estava intensa. Do lado de fora, além de encontrar terços e sentinhos do homenageado, fieis encontravam babalorixás, que davam passes e benziamas pessoas com arruda, aroeira e uma mistura de grãos.

- Estamos aqui fazendo uma homenagem a São Jorge e fazendo um protesto contra a intolerância religiosa. Trouxemos aqui ingredientes para abrir os caminhos das pessoas - explica o babalorixá Pai Valdéquio de Oxóssi.

A dona de casa Renata Mallet, de 39 anos, é devota do santo há dez anos. Todos os anos ela sai de Padre Miguel para passar algumas horas do dia 23 de abril na igreja do Centro. Neste ano, ela foi acompanhada da neta Valentina, de sete meses:

- Pedi uma graça para ele e consegui. Agora venho sempre agradecer. Ele me inspira paz. Trouxe a minha neta porque quero ensinar isso para ela desde cedo.