Villas Bôas silencia em primeira aparição após mensagens sobre julgamento no STF

Comandante do Exército e ministro da Defesa não falam sobre repercussão de mensagens sobre impunidade

General Eduardo Villas Bôas em solenidade de promoção de 36 novos generais no Clube do Exército, em Brasília
General Eduardo Villas Bôas em solenidade de promoção de 36 novos generais no Clube do Exército, em Brasília - Rubens Valente/Folhapress
Rubens Valente
Brasília

Na sua primeira aparição pública após ter postado mensagens que foram interpretadas como uma pressão sobre ministros do STF, o comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, silenciou.

Logo após a solenidade de promoção de 36 novos generais no Clube do Exército nesta quinta-feira (5), o comandante informou por meio de sua assessoria que não falaria com os jornalistas.

 

O general estava acompanhado dos ministros Joaquim Silva e Luna (Defesa) e Raul Jungmann (Segurança Pública) que, também procurados por jornalistas, disseram que não iriam se manifestar. Jungmann depois deu declarações sobre o assunto no Senado.

Na terça-feira (3), véspera do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula no STF, Villas Bôas postou em rede social que é contrário à impunidade e que o Exército estava "atento às suas missões institucionais".

Um dos convidados para a solenidade no Clube do Exército, o general da reserva Antonio Hamilton Mourão disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso pudesse se candidatar e fosse eleito presidente, não teria “moral nenhuma” para comandar as Forças Armadas.

Ele chamou o ex-presidente de ladrão e defendeu a manifestação do comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, em rede social na véspera do julgamento do habeas corpus de Lula no STF.

Mourão foi indagado por jornalistas sobre qual seria a reação das Forças Armadas caso o STF reveja a permissão para prisão em segunda instância e acabe permitindo uma candidatura de Lula.

“Eu vou dizer uma coisa muito clara: as Forças Armadas ficarão extremamente aborrecidas se nós no futuro tivermos um ladrão como comandante-em-chefe. Não é admissível isso", disse o general.

Segundo ele, "Lula é um camarada que na função pública de presidente da República usou o seu cargo para benefício próprio e de sua família, comprovadamente".

"Condenado por um juiz de primeira instância e por um colegiado de três desembargadores, por unanimidade. Se mudar isso aí, e esse homem ainda vier a concorrer e por acaso for eleito, imagina como é que nós vamos olhar 'que o nosso comandante é um ladrão'. Haverá uma insatisfação muito grande. Ninguém vai derrubar ele, mas ele não terá moral nenhuma para nos comandar”, declarou.

TROPA

Mourão foi indagado se manifestações como as do comandante do Exército não contribuem para criar instabilidade na tropa, ao permitir que outros oficiais passem a vir a público falar sobre o cenário político. Mourão argumentou que o Exército é apartidário, mas não apolítico.

“A tropa sabe muito bem que se a política entra pela porta da frente num quartel, a hierarquia e a disciplina saem pela porta dos fundos. Então isso tem sido preservado. Em outros tempos, até antes do movimento de 64 [referência ao golpe militar de 1964], havia muitas manifestações políticas isoladas, o que não é bom para uma instituição que se baseia na disciplina e na hierarquia. Então considero que o comandante, quando fala, fala em nome de todos, e todos coincidem com esse pensamento. Ele tem o direito de falar e deve. Porque uma coisa tem que ficar muito clara, o Exército é apartidário, mas não é apolítico. O Exército tem que fazer política.”

Mourão, que passou à reserva em fevereiro passado, nos anos no Exército protagonizou polêmicas, como ter dito em uma palestra em 2017 que as Forças Armadas poderiam impor uma solução para a crise política no país.

O general se disse “satisfeito, de alma lavada e enxaguada” com a derrota no habeas corpus de Lula. “Repercutiu muito bem [nas Forças Armadas]. A Justiça está sendo feita. Um camarada que está condenado não pode estar fora da prisão. Senão é aquela história que eu já comentei: vamos abrir as portas da cadeia e só os que foram presos em flagrante ficam lá dentro e o restante aguarda a última instância necessária.”

'CONTURBADOS'

Na solenidade de promoção dos novos generais, quem falou pelo Exército, como é tradição em eventos do gênero, foi o general Fernando Azevedo e Silva, chefe do Estado-Maior do Exército. Dirigindo-se aos novos generais, Silva disse que o país atravessa dias difíceis e conturbados.

“A educação democrática também passa pelos quartéis. O Exército é uma instituição de Estado, apartidária e sem tendência política. No cenário atual, a prerrogativa evidente e inegociável é o respeito à Constituição e suas leis complementares, que são fundamentais para permitir o império sereno da ética e da moralidade, a estabilidade da democracia e a prevalência dos valores da República. O Exército Brasileiro sempre faz parte da solução e jamais dos problemas.”

Segundo o chefe do Estado-Maior, no século 21 o Exército “passou a receber e solucionar demandas de toda espécie, muito além de suas tarefas constitucionais”, como grandes eventos [a exemplo de Olimpíadas em 2016 e Copa do Mundo em 2014], missões de paz, socorro a calamidades, segurança nas eleições, defesa do meio ambiente, entre inúmeras outras.

Somente em 2017, segundo o general, o Exército conduziu 1.027 operações policiais na faixa de fronteira, 45 missões de garantia da lei e de ordem, 26 operações de varredura em presídios, distribuiu água e construiu cisternas em 816 municípios do semi-árido nordestino, beneficiando mais de 40 milhões de habitantes daquela região, além de construção e manutenção de pontes e estradas que integram o interior do país.

O chefe do Estado-Maior mencionou ainda “duas missões impostas ao Exército no alvorecer de 2018: a responsabilidade pela acolhida aos milhares de imigrantes venezuelanos em Pacaraima e Boa Vista e a difícil e inesperada intervenção federal no estado do Rio de Janeiro”.

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