Rio

Organizador de parada LGBT desmente ajuda da prefeitura para captação de recursos

Município afirma que mediou negociação junto ao Ministério da Cultura e trabalhou na busca por patrocinadores
Para do Orgulho LGBT, em Copcabana, reuniu 600 mil pessoas em 2016 Foto: Leo Martins / Agência O Globo 11/12/2016
Para do Orgulho LGBT, em Copcabana, reuniu 600 mil pessoas em 2016 Foto: Leo Martins / Agência O Globo 11/12/2016

RIO - A aprovação do Ministério da Cultura (Minc) à captação de recursos de pouco mais R$ de 1,3 milhão , que serão convertidos, por meio da Lei Rouanet, em incentivos fiscais para empresas que patrocinarem as paradas LGBTs de Copacabana de Madureira está no centro de uma polêmica envolvendo o Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT , organizador dos eventos, e a prefeitura do Rio . Isso porque, diferentemente do anunciado pela Coordenadoria Especial de Diversidade Sexual do município ( CDES Rio ) nesta segunda-feira, o Grupo Arco-Íris nega que a prefeitura tenha atuado na busca por patrocinadores ou na mediação junto ao Minc para a autorização da captação de recursos.

Segundo o diretor sociocultural do Grupo Arco-Íris, Julio Moreira, desde o começo da gestão do prefeito Marcelo Crivella, não houve qualquer apoio da prefeitura, logístico ou financeiro, à organização das paradas LGBT. Moreira afirma que o póprio grupo, que também organizou uma vaquinha na internet para ajudar na realização do evento em Copacabana, é quem tem trabalhado para viabilizar financeiramente o evento.

- Desde o começo do ano, diante da total falta de apoio da prefeitura, fomos nós que contratamos a Four X para dar entrada no pedido de captação de recursos junto ao Minc. O mesmo vale para a busca por patrocinadores como a Ambev, que já havia nos patrocinado no ano passado, e da Uber - afirma Moreira. - Diante da repercussão negativa de que a prefeitura não daria nenhum tipo de ajuda Parada LGBT, que é realizada anualmente desde 1995, eles agora adotam essa estratégia oportunista, afirmando que tiveram um papel determinante na aprovação da captação de recursos.

Embora o Minc já tenha, de fato, autorizado a captação de recursos para empresas patrocinadoras desses eventos, o diretor sociocultural do Grupo Arco-Íris ressalta que a Ambev e a Uber ainda não assinaram os contratos de patrocínio. Ele descarta um novo adiamento dos eventos, e frisa que, caso os contratos não sejam firmados até o fim da primeira semana de novembro, o tom festivo das passeatas, que acontecerão em 19 (Copacabana) e 26 de novembro (Madureira) dará lugar, em função da falta de recursos, a uma passeata de protesto.

- Todos os anos, nós temos uma série de gastos com o aluguel de trios elétricos, equipamento de som, segurança, banheiros químicos etc. Sem apoio da prefeitura e sem patrocinadores, é impossível fazer um evento nos moldes dos anos anteriores, mas nem por isso deixaremos de ocupar as ruas.

Julio Moreira também argumenta que a não realização, principalmente, parada de Copacabana nos seus moldes tradicionais causa prejuízos também no setor hoteleiro e no comércio. No no passado, cerca de 600 mil pessoas lotaram a Praia de Copcacabana, o que, na avaliação do diretor do Grupo Arco-Íris, causará quedas também na arrecadação da prefeitura no Imposto Sobre Serviço (ISS)

- O apoio da prefeitura não é caridade. Além da importância social, turistas de várias partes do Brasil, e até o mundo, vêm ao Rio na semana do evento. Isso eleva a taxa de ocupação dos hotéis e movimenta também o comércio, especialmente bares e restaurantes, o o que obviamente aumenta a arrecadação da prefeitura. A parada LGBT tem uma grande importante econômica, como vários outros eventos da cidade.

Além da falta de apoio aos eventos deste ano, outro ponto que Julio Moreira critica a prefeitura do Rio pelo não pagamento da última parcela de R$ 68 mil referente ao convênio patrocínio da Parada do Orgulho LGBTI Rio de 2016, firmada ainda na gestão anterior. O diretor sociocultural do Grupo Arco-Íris também questiona o fato de, diferentemente do ocorrido na diminuição pela metade dos repasses da prefeitura às escolas de samba do Grupo Especial de 2018, de R$ 26 milhões para R$ 13 milhões, a prefeitura cortou totalmente o aporte financeiro às paradas LGBT na cidade.

- No caso das escolas de samba, houve uma redução de repasses pela metade. No nosso, que consumimos uma verba muito menor, o corte foi total. Qual é a justificativa para essa decisão? - questiona. Por isso, também organizamos uma vaquinha na internet e temos buscado o apoio de diversos artistas para aumentar a visibilidade e apoio à campanha.

PREFEITURA REAFIRMA NEGOCIAÇÃO COM MINC E PATROCINADORAS

Procurada pelo Globo, a Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual reafirmou que, a pedido da prórpria produtora Four X Entertainment, interveio na negociação com o Ministério da Cultura e com as empresas para a viabilização das paradas LGBT e demais eventos ligados o Mês da Diversidade, e acrescenta que todas as marcas procuradas negaram apoio a eventos que não estivessem na agenda oficial da prefeitura.

O órgão ainda cita a reunião do coordenador especial da Diversidade Sexual da Prefeitura do Rio de Janeiro, Nélio Geogini, com o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, e com o diretor de relações institucionais da Ambev, Disraelli Galvão, no dia 25 de agosto, como prova da atuação da prefeitura para a realização de atividades e eventos que reforcem as políticas públicas voltadas à população LGBTT. Segundo a CDES, a reunião reforça a importância da atuação do órgão para aprovação da captação de recursos autorizada pelo Ministério Público. O encontro de Nélio Geogini com Sérgio Sá Leitão e Disraelli Galvão consta na agenda oficial e no site do Ministério da Cultura.