Por Iryá Rodrigues, G1 AC — Rio Branco


Papa Francisco chega à Puerto Maldonado, no Peru, na sexta-feira (19) — Foto: Edgard Garrido/ Reuters

Somente na terça-feira (16), cerca de 700 índios de diversas etnias e estados do país passaram pelo Acre e seguiram para a cidade de Puerto Maldonado, no Peru, para a visita do papa Francisco.

A informação foi confirmada nesta quarta (17) pela chefe do setor de promoção e eventos da Secretaria Estadual de Turismo e Lazer (Setul) do Acre, Rita Ramos.

O papa deve chegar à cidade peruana às 10h do dia 19. Primeiro ele vai se encontrar com padres e fazer visitas à casa de crianças carentes. Depois, ele participa de um almoço com os índios acreanos e rondonienses.

“Começou o fluxo no dia 16. Entraram no estado 700 índios, que passaram pelo Acre e seguiram por Assis Brasil para o Peru. São indígenas de vários estados do Brasil”, informou Rita.

A coordenadora da organização das mulheres indígenas do Acre e Sul Amazônas, Letícia Yawanawá, informou que somente do estado acreano e do Sul da Amazônia, cidade de Boca do Acre, estão a caminho de Puerto Maldonado 40 lideranças indígenas.

“Nossa programação é que vamos ter uma hora com o papa, somente os povos indígenas. Vão poder entrar cinco lideranças somente do Acre e Sul da Amazônia. Vamos entregar uma carta falando sobre a violência contra mulher, questões territoriais, maior criminalização dos povos indígenas e também sobre o aumento de suicídios em aldeias da região”, informou a coordenadora.

O encontro, segundo Letícia, contará com a presença de povos indígenas de vários estados brasileiros e de outros países. Ela fala sobre a importância de estar com o líder católico.

“A importância para nós indígenas de entregar esse documento e ter esse momento, mesmo que só de uma hora, é porque ele vai estar levando nossa reivindicação para outros países. Nós do Acre nunca tivemos esse contato com o Papa, mas outros irmãos já tiveram e falaram que ele é muito sensível à questão dos povos indígenas. Vamos mostrar nossa cultura e também apresentar a nossa alegria de estar junto com ele”, disse Letícia.

Ao todo no Acre, segundo a coordenadora, existem 21 mil indígenas, de acordo com os dados do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) dos dois distritos, Purus e Juruá.

Aldeias do Acre registraram mais de 12 suicídios em um ano

O documento que será entregue ao pontífice tem a intenção de alertar o líder católico para o aumento no número de suicídios entre alguns povos indígenas da região, além de outras questões.

No Acre, segundo a coordenadora Letícia, foram registrados mais de 12 suicídios nas aldeias da região somente entre os anos de 2016 e 2017. A maioria dos casos ocorreram, de acordo com ela, com os povos Madija, chamados também de Kulinas.

Rosenilda Nunes, da equipe da Diocese de Rio Branco, informou que um estudo antropológico está sendo providenciado para entender as causas para tantos suicídios.

“Eles estão na expectativa de entregar esse documento que relata o sofrimento deles, principalmente sobre a demarcação dos territórios e também a questão que vem acontecendo dos suicídios, principalmente do povo Madija. A gente está providenciando um estudo antropológico para saber o motivo de tantas mortes entre eles”, disse Rosenilda.

Sesacre orienta sobre riscos de saúde durante visita

A Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) dá dicas sobre saúde para as pessoas que vão seguir até o país vizinho para a visita do Papa. Um documento produzido pelo governo peruano, recebido por meio do Ministério da Saúde, avalia os riscos de saúde devido ao trânsito de milhares de pessoas do Peru, Brasil e outros países da América do Sul.

Uma das dicas é o cuidado com a alimentação e o consumo de água. Segundo o documento, devido a quantidade de pessoas que o país vizinho vai receber durante a visita, a oferta de serviço pode ficar precária e as pessoas precisam ter atenção com o consumo de alimentos e água contaminados.

A presença de Influenza A e outros vírus respiratórios na região podem representar maior risco, de acordo com o documento. Há ainda a presença de dengue, zika, malária, leishmaniose e leptospirose na região.

A Sesacre orienta ainda que os brasileiros que forem cruzar a fronteira para a visita do papa Francisco procurem uma unidade de saúde e sejam imunizados contra influenza e febre amarela.

Documentação necessária

Quem pretende participar da agenda do líder religioso no país vizinho precisa se atentar para os documentos que precisam ter em mãos na hora de passar pela fronteira.

O primeiro deles é a cédula de identidade (RG) ou passaporte. Não são aceitas as carteiras Nacional de Habilitação (CNH), profissionais e certidão de nascimento.

Para ingressar no Peru com veículos em nomes de terceiros, é necessária a apresentação de Procuração Pública, que deve contar com a “Legalização da Convenção da Apostila da Haia”.

No caso do veículo pertencer a pessoa jurídica, deverá ser apresentada a cópia autenticada do Contrato Social e, se for o caso, a autorização pública do sócio.

Os menores precisam de autorização dos genitores se não estiverem acompanhados de ambos. Segundo a delegada federal Diana Calazans Mann, para viajar com os pais, menores de 18 anos precisam carregar passaporte ou, se for para os países da América do Sul, carteira de idade original.

“O novo passaporte brasileiro (azul) não tem informações de paternidade, portanto, é preciso apresentar o documento de identidade no check-in. Para crianças viajando somente com o pai ou com a mãe, o outro deverá autorizar por escrito, com firma reconhecida em cartório por autenticidade, por semelhança ou por escritura pública”, informou a delegada.

Segurança nas estradas

Apesar de ser um assunto específico e uma curta passagem por Puerto Maldonado, autoridades brasileiras já montaram o esquema de segurança no Acre.

"A aduana vai funcionar 24 horas, assim como Polícia Federal na imigração também. A Polícia Rodoviária Federal vai atuar, principalmente, no trevo de Xapuri, Brasileia e Assis Brasil ", explica Cezar Henrique, superintendente da PRF-AC.

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