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Por Fausto Macieira, Mundo Moto — Rio de Janeiro

MotoGP Musical Chairs, a dança das cadeiras da .. — Foto: Internet

A "era MotoGP" trouxe muita coisa boa para a mesa de negociações. Pilotos e membros de equipes ganham melhor, têm mais estabilidade e o pacote técnico faz parte integrante dos contratos. Que óbvio, estabelecem clásulas de desempenho e possibilidades de ruptura, tratamento em caso de acidentes graves e muito mais. O que é ótimo para o esporte, quanto mais regramento expresso, melhor.

Quem não lembra da fase da Ducati demitindo Marco Melandri, que enfrentou situação semelhante quando competiu pela Kawasaki. Se um campeão do mundo como o italiano pode virar pedestre de um momento para outro, o que dizer dos menos favorecidos pelo destino.

Acelerando até o presente, entre os ditos pilotos de ponta da MotoGP, temos como renovados Marc Márquez, Maverick Viñales e Valentino Rossi. De cara, uma vaga cobiçadíssima, a de companheiro de MM93 na Repsol Honda HRC. O contrato de Dani Pedrosa termina no fim do ano e não há notícias sobre o assunto. Além disso, o novo chefe da equipe é o ex-vencedor de GPs nas 500cc Alberto Puig, que teve uma relação de amor e ódio com DP26, criado e tutelado por ele a ponto de sair para namorar com Puig de "vela". Eles romperam a associação em 2013, e segundo fontes da Honda, uma das missões de Puig será demitir Pedrosa, algo que supostamente ele irá fazer com certa satisfação...

Johann Zarco: pretendido por todos... — Foto: Michelin

O que nos leva ao maior boato de todos , a possibilidade de o francês Johann Zarco colocar seu número 5 em uma RC213V oficial a partir do ano que vem. Em grande fase na Tech 3 Yamaha, Zarco, que largou na pole e liderou 17 das 22 voltas do GP do Catar (até ficar para trás por, segundo ele, um pneu dianteiro defeituoso na sua M1 safra 2016) é o piloto mais mencionado quando se fala em mudanças para a temporada 2019. O dono da Tech 3, Hervé Poncharal, que anunciou no mês passado o encerramento da parceria com a Yamaha, sabe que tem pouca chance de manter seu melhor piloto. Essa é a aposta da bem informada página alemã speedweek.

A KTM está de olho em Zarco, e tem a força do touro vermelho para colocar uma proposta tentadora sobre a mesa, para a provável vaga do cerebral - mas não suficientemente rápido - Bradley Smith. Mas o equipamento está longe de ter a excelência da Honda, vencedora de 4 dos 5 últimos campeonatos mundiais, e esse fator é fundamental para a tomada de decisão.

Outro aspecto importante é ter Marc Márquez ao lado na garagem. O que pode ser uma incógnita. Márquez tem daclarado que ficaria feliz em ter o francês na equipe. Mas não há dúvidas de que ele ficaria mais feliz ainda tendo o irmão de sangue como irmão de armas. E segundo piloto, claro, porque qualquer um que vá para a garagem da Honda oficial atualmente será um acessório de Marc Márquez, prioridade máxima - e justificável - da marca da asa.

Palavras de Marc Márquez: "Não tenho influência na decisão, que é da Honda. Eles devem contratar o companheiro de equipe mais forte que puderem conseguir. Johann Zarco é um piloto que está no mais alto nível. Quanto mais forte for a nossa equipe, mais cedo poderemos melhorar nossa moto e troná-la ainda mais poderosa. Mas também será correto se o contrato de Dani for prorrogado. Na verdade isso não interessa para mim; meu contrato já foi assinado e não posso falar disso. "

Quando perguntado pela speedweek, o ex-piloto Laurent Fellon, mentor de Zarco desde a Rookies Cup de 2007, sorriu e pôs o dedo indicador sobre a boca, sorrindo de novo.

O próprio Zarco fala do tema: "Por que eu deveria estar com medo? Seria bom ser companheiro de equipe de Márquez. A Repsol Honda é uma espécie de time dos sonhos. Desde criança eu via pela TV, lembro de Mick Doohan, depois Rossi, depois Márquez. Foi sempre bom ver essa equipe."

Poncharal para Jarvis: eu te disse... — Foto: MotoGP

Mas a Yamaha também tem planos para Johann Zarco. O Presidente da Yamaha França, Eric de Seynes, diz que os rumores de JZ5 na Honda podem ou não ter fundamento, mas uma coisa é certa, todos no Japão estão cientes disso, e fazendo planos para manter o talentoso piloto francês na famiília Yamaha. E o austero Lin Jarvis, chefão da Yamaha, se defende: "Não creio que a Tech 3 tenha saído porque se sentia sem apoio da Yamaha, mas porque eles receberam uma oferta fantástica, tanto do ponto de vista econômico como de estabilidade - mas eles estavam há quase 30 anos na Yamaha, se isso não é estabildade não sei mais o que é. É verdade que não demos uma moto oficial ao Zarco, mas apenas respeitamos os termos do nosso contrato. "

Sobre uma terceira moto oficial no ano que vem caso similar ao de Cal Crutchlow na LCR Honda e Danilo Petrucci na Pramac Ducati, ele foi evasivo. "Poderá ser uma coisa a falar no contrato com a nova equipe. É possível que no próximo ano Zarco possa ter uma moto oficial. Para essa temporada seria uma coisa muito difícil de conseguir, mas não penso que neste momento falte apoio da Yamaha para Johann." Há controvérsias em relação a isso.

Se há muitas dúvidas na Repsol Honda e na Tech 3 Yamaha, elas continuam no ar na equipe oficial Ducati, onde os contratos de Andrea Dovizioso e Jorge Lorenzo terminam no fim do ano e ainda não foram renovados. O empresário de Dovizioso, Simone Batistella, disse que o piloto espera um aumento substancial e estuda propostas de outras marcas - entre elas Honda e Suzuki. Com total razão. Segundo consta, ele recebe 2,5 milhões de euros - cerca de 10 milhões de reais, contra 12,5 - 50 milhões de reais - de Lorenzo. Cinco vezes menos, tendo goleado o espanhol por 6 a 0 no Mundial de MotoGP 2017.

Talvez por isso - e provavelmente pela conduta no GP de Valência 2017 -, Paolo Ciabatti, Diretor Esportivo da Ducati, vem alardeando que fará um corte no salário de Lorenzo. "Perdemos a Telecom Italia, um dos nossos principais patrocinadores, e a situação é diferente de 2016. Quando Lorenzo foi contratado, ele era o campeão do mundo (de 2015), mas agora a situação é muito diferente e não poderemos dar a ele o mesmo dinheiro da última vez."

Jorge Lorenzo: dúvidas no caminho... — Foto: MotoGP

Se Lorenzo não aceitar, ele teria que brigar com Zarco pela vaga na Honda, se é que seria bem-vindo lá, ou buscar abrigo na KTM, Suzuki ou em uma equipe independente. Essa vaga na Ducati oficial poderia ficar com Danilo Petrucci, da Pramac Ducati, que aceitaria receber ainda menos que Dovi vinha ganhando até agora para ter status de piloto de fábrica. Ou Jack Miller, dependendo do que fizer em 2017. Petrucci tem uma GP18 e o australiano anda de GP17, duas motos capazes de vencer corridas. Se Miller chegar ao topo do pódio - coisa que ele já fez na Marc VDS em 2016 - antes de Petrucci - que nunca venceu um GP -, tem chances de passar para a garagem principal ao lado de Dovizioso.

A Pramac pode ficar sem seus dois pilotos, mas tem uma certeza, Francesco "Pecco" Bagnaia, 21 anos, vencedor do GP do Catar de Moto2, já assinou contrato de 2 anos a partir de 2019.

Na Suzuki, Andrea Iannone e Alex Rins têm contrato até o fim do ano. Rins deve ficar, enquanto Iannone tem que fazer por merecer, o que ainda não aconteceu nas corridas.

Na LCR Honda os salários dos 2 pilotos são pagos pela HRC. O de Cal Crutchlow termina em 2019, e o de Takaaki Nakagami é de um ano, termina no fim desta temporada. Independente do que faça - ou não faça -, o japonês deve renovar.

Franco Morbidelli: contrato até o fim de 2020, mas a moto pode não ser Honda... — Foto: MotoGP

Na Marc VDS Honda, o contrato de Franco Morbidelli é de 2 anos, com opção de mais 1. O de Tom Luthi tem um risco maior, pois termina no fim de 2018. Mas a equipe do milionário belga Marc Van der Stratten, chefiada pelo sagaz belga Michael Bartholemy, está contrariada por ter perdido Miller para a Pramac, e negocia para ser a sucessora da Tech 3 como equipe satélite da Yamaha a partir do ano que vem. Nessa briga competem também a Avintia Ducati - de Xavier Simeon e Tito rabat, ambos com contrato de apenas um ano - e o Angel Nieto Team de Aspar Martinez, que tem como pilotos Alvaro Bautista e Karel Abraham, também com contratos de um ano. O esquisito é que essa parceria pode ser por tempo determinado, caso Valentino Rossi decida se retirar das pistas - ele tem contrato até 2021, provavelmente com cláusula de rompimento a qualquer tempo, sem ônus para as partes. Neste caso a satélite Yamaha seria a VR46, se bem que o próprio VR46 tem carta branca para fazer o que quiser. Inclusive ser o chefe/dono da equipe de fábrica. Quem duvida?

Falando por último - mas não em último - da Aprilia, o time de Fausto Gresini, que tem contratos de apenas um ano com sua dupla de pilotos, Aleix Espargaró e Scott Redding. A associação de 4 anos com a Aprilia termina no final desta temporada e a equipe está insatisfeita com o pacote técnico, o que a levou a negociar para ser satélite da Suzuki ano que vem, o que já aconteceu - mas não se concretizou - em 2010.

E neste caso, para onde iria a Aprilia? teria que comprar uma vaga em outra equipe independente - LCR (chance remota, apesar de uma aproximação em 2016), Pramac (zero chance), Angel Nieto (chance razoável) ou Avintia (boa chance).

Uma moto de cada uma das doze equipes fixas no Mundial de MotoGP 2018. Essa configuração pode ser diferente ano que vem... — Foto: MotoGP

Voltando ao começo, há que se pensar no projeto da Dorna - gerido por Carmelo Ezpeleta - para a MotoGP; 6 marcas com uma equipe oficial e uma satélite cada. Por enquanto está assim: 4 equipes Ducati (fábrica, Pramac, Avintia e Angel Nieto), 3 da Honda (fábrica, LCR, VDS) e Suzuki, KTM e Aprilia com uma equipe cada. A KTM já se alinhou, faltam Suzuki e Aprilia.

Como vai ficar o tabuleiro de homens e máquinas para o ano que vem? Nem o Criador sabe, mas uma coisa não se discute: vai ser maneiro...

fausto macieira — Foto: Divulgação

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