Rio Bairros Niterói

Falta de manutenção de bicicletas em Niterói faz ciclopatrulhamento se restringir ao Campo São Bento

Agentes da Guarda Municipal dizem que de 24 veículos, apenas 7 são usados. Prefeitura nega

O que sobrou. Agente da Coordenadoria de Ciclopatrulhamento pedala no Campo São Bento: falta de reparo das bicicletas está restringindo atuação ao perímetro do parque
Foto: Fábio Guimarães /
Agência O Globo
O que sobrou. Agente da Coordenadoria de Ciclopatrulhamento pedala no Campo São Bento: falta de reparo das bicicletas está restringindo atuação ao perímetro do parque Foto: Fábio Guimarães / Agência O Globo

NITERÓI - A Guarda Municipal de Niterói recebeu, há pouco mais de um ano, a doação de 20 bicicletas da rede de supermercados Real, com o objetivo de iniciar a criação de uma Coordenadoria de Ciclopatrulhamento, dando mais agilidade às ações dos agentes municipais na região que abrange Centro, Ingá, Icaraí, Jardim Icaraí e São Francisco, zonas apontadas pela mancha criminal como áreas de grande incidência de roubos de rua. Com esta ação, o número de agentes de bicicleta que atuam na cidade passou de 12 para 32, em regime de escala, segundo anunciou a prefeitura na época. No entanto, a falta de manutenção das bicicletas vem provocando a derrocada do projeto: fontes da Guarda Municipal contabilizam apenas sete veículos em condição de uso, de um total de 24 que o grupamento tem. Ao todo, 17 bicicletas estão encostadas, sem conserto, em núcleos da Guarda na Ponta D’Areia e em Icaraí. Com isso, a atuação está restrita a dois agentes ciclistas por escala, apenas no Campo São Bento durante o horário de funcionamento do parque. Apesar da queixa dos guardas em relação à redução, a prefeitura garante que a corporação tem 15 veículos em funcionamento e diz que o ciclopatrulhamento será expandido para o programa Niterói Presente.

Um guarda municipal que participava das rondas diárias de bicicleta na região central da cidade até o início do ano diz, sob anonimato, que o sucateamento dos equipamentos poderia ter sido evitado com pequenos reparos.

— Essas bicicletas eram usadas todos os dias, e isso faz com precisem de manutenção frequente, o que nunca ocorreu. Todas as seis bicicletas usadas pela coordenadoria de ciclopatrulhamento que ficam na sede da Guarda Municipal na Ponta D’Areia estão quebradas, sem utilização. Em Icaraí, tem 18 bicicletas, mas 11 estão quebradas — contabiliza.

MOBILIDADE LIMITADA

A falta das bicicletas tem limitado a mobilidade dos guardas municipais.

— A ideia (de criar uma coordenadoria de ciclopatrulhamento) é muito boa. Quase que diariamente prendemos algum ladrão, alguém praticando furto, mas sem as bicicletas perdemos a capacidade de transitar com mais mobilidade, o que restringe nossa ação. Antes, conseguíamos patrulhar uma área muito maior, transitando por esses locais várias vezes. Agora, isso está muito limitado — reclama o agente.


Parte dos ciclos, sem manutenção, está inoperante: 17 ao todo
Foto: Foto do leitor
Parte dos ciclos, sem manutenção, está inoperante: 17 ao todo Foto: Foto do leitor

Não são somente os guardas que sentem a baixa das rondas de ciclopatrulhamento. A estudante de produção cultural da UFF Lívia Mendonça, que pedala diariamente de Icaraí a São Domingos para as aulas, vem notando a ausência dos agentes nas ciclovias e diz que se sente mais insegura.

— Até o ano passado, dificilmente eu ia e voltava do Iacs (Instituto de Arte e Comunicação Social) sem esbarrar com um guarda no caminho. Isso dava uma sensação de segurança. Este ano, desde o início das aulas, percebi que eles sumiram. Estou até andando mais rápido porque em alguns trechos desertos eu fico com mais medo — conta.

O cicloativista Luis Araújo, integrante do coletivo Pedal Sonoro, lamenta a baixa na atuação do ciclopatrulhamento. Para ele, o trabalho dos agentes sobre rodas é fundamental para a segurança dos ciclistas.

— O ciclopatrulhamento é um excelente projeto, mas, como muitos em Niterói voltado para promover mais segurança no uso das bicicletas, não é levado a sério. Se não fosse descontinuado, teríamos uma outra situação na cidade em relação à fiscalização das ciclovias e ciclofaixas, e também em relação à segurança pública, já que os ciclistas são alvos diariamente de assaltos, mas infelizmente foi um projeto que não teve a devida continuidade — lamenta Araújo.

A prefeitura nega a denúncia feita pelos guardas de que apenas sete bicicletas estão em funcionamento. Em nota, diz que a Guarda Municipal dispõe de 23 bicicletas. “Quinze são usadas e oito estão em manutenção”. Segundo a prefeitura, a própria administração da corporação faz pequenos reparos nas bicicletas, e consertos mais complexos são realizados em uma oficina especializada.

Ainda de acordo com a nota, a Guarda Municipal vem aprimorando o sistema de controle e guarda das bicicletas para dar agilidade à manutenção e garantir que sejam acomodadas adequadamente, permitindo o uso correto do equipamento. “A Guarda Municipal deslocou bicicletas para atender à Coordenadoria de Trânsito, notadamente no patrulhamento das ciclovias, e também para a Administração Regional do Centro, para atender ao Caminho Niemeyer. O efetivo varia de acordo com a adesão dos guardas ao Regime Adicional de Serviço (RAS)”, explica.

Segundo a prefeitura, o ciclopatrulhamento será expandido para o programa Niterói Presente, em que militares da reserva são selecionados através de processo simplificado de contratação para reforçarem o policiamento nas ruas. A prefeitura informa que 60 novas bicicletas foram adquiridas pela Secretaria de Ordem Pública (Seop) para reforçar o patrulhamento, mas não dá prazo para o início da expansão do serviço.

A rede de supermercados Real foi procurada, mas não respondeu.

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