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Por Alexander Grünwald — São Paulo

Pergunte a dez pilotos de Fórmula 1 qual é a curva mais desafiadora do calendário, e provavelmente a resposta será unânime: a Eau Rouge. Não apenas pela alta velocidade daquele ponto do circuito de Spa-Francorchamps, equivalente à subida de um prédio de dez andares, que leva à igualmente veloz curva Raidillon. Mas, principalmente, pelo desafio de contornar o famoso trecho com uma mudança de direção, que aumenta consideravelmente as forças laterais às quais o competidor é submetido durante a manobra.

Curva Eau Rouge, em Spa-Francorchamps, é uma das mais desafiadoras do calendário da Fórmula 1 — Foto: Dan Mullan/Getty Images

Só que o desafio, muitas vezes, resulta em acidentes. Não são poucas as pancadas fortes na história do autódromo belga, nas mais variadas categorias – incluindo algumas envolvendo brasileiros. O mais recente deles foi nesta sexta-feira, pelo Mundial de Endurance. Após uma quebra no protótipo da DragonSpeed, Pietro Fittipaldi foi reto na barreira de pneus, sofrendo fratura exposta em uma das pernas e rompendo os ligamentos do joelho.

Pietro Fittipaldi bate forte Eau Rouge — Foto: Reprodução

"A Eau Rouge é um desafio para qualquer categoria, um frio na barriga"
Luciano Burti, ex-piloto de F1

- É um ponto de velocidade muito alta, cerca de 300 km/h. Uma curva que começa em descida e acaba em subida, e a saída ainda é um ponto cego, você não vê o que vem pela frente: no meio da curva, tem que direcionar o carro para onde ele tem que ir, mas você não enxerga. É uma curva difícil e técnica, e complicada também porque não tem área de escape, pois é um circuito à moda antiga. É um desafio para qualquer categoria, um frio na barriga – analisa o comentarista Luciano Burti, que já correu de Fórmula 1 neste circuito.

Tragédia com protótipos em 1985

Em 1985, este trecho (batizado pelo rio de água avermelhada que corre sob a pista) ficou marcado por uma tragédia nos 1000 km de Spa-Francorchamps, uma corrida que fazia parte do antigo Mundial de Esporte-Protótipos – equivalente ao atual WEC.

Disputando posição com o belga Jacky Ickx, o alemão Stefan Bellof tentou superar o protótipo do rival por fora, com a pista úmida, e a colisão foi inevitável. Bellof bateu forte contra a barreira de proteção, teve seu carro incendiado, e morreu com hemorragia interna.

Stefan Bellof não resistiu ao acidente durante os 1000 km de Spa-Francorchamps, no dia 1º de setembro de 1985 — Foto: Reprodução / Twitter

Sustos com outros brasileiros

Também competindo com um protótipo no no WEC (sigla em inglês para Campeonato Mundial de Endurance), Antonio Pizzonia viveu um susto e tanto em 2012. O piloto amazonense, que atualmente corre na Stock Car, sentiu quando a suspensão de seu carro se quebrou em plena subida, a cerca de 300 km/h. Felizmente, sofreu apenas uma pancada no joelho, que não o impediu de correr no dia seguinte.

- Eu tive sorte de não me machucar. No meu caso quebrou uma peça da suspensão, então na entrada da curva já senti a traseira afundar e arrastar no chão, só que você não tem tempo de fazer nada. Nestes casos, numa curva rápida, nem adianta meter o pé no freio, você bate de qualquer jeito. Foi só uma questão de torcer para que batesse de um jeito que não me machucasse. Do jeito que o Pietro foi reto, nitidamente quebrou algo no carro dele – analisa Pizzonia.

Ricardo Zonta sofreu acidente na Eau Rouge, em Spa-Francorchamps, correndo de Fórmula 1 em 1999 — Foto: Michael Cooper /Allsport

Correndo de Fórmula 1, Ricardo Zonta – outro que compete hoje na Stock Car – também sofreu um susto cinematográfico. Em 1999, guiando pela equipe BAR, o paranaense perdeu o controle do carro e se chocou na parte externa da Eau Rouge, já na Raidillon. Já destroçado, o carro rodopiou várias vezes até parar no meio da pista.

Zonta não sofreu traumas físicos, mas saiu desorientado do cockpit. Tanto que chegou a responder em inglês uma pergunta feita em português por um repórter brasileiro. Procurado pela reportagem do GloboEsporte.com, sua assessoria informou que ele prefere não comentar o episódio.

Ricardo Zonta sofreu acidente na Eau Rouge, em Spa-Francorchamps, correndo de Fórmula 1 em 1999 — Foto: Michael Cooper /Allsport

Em 1959, em uma corrida de carros esporte extracampeonato, o brasileiro Christian "Bino" Heins capotou seu Porsche na saída da Eau Rouge. Na época, as barreiras eram ainda mais próximas da beira da pista. Apesar de o carro cair sobre seu corpo, Bino saiu sem ferimentos mais graves. O vídeo é impressionante:

Batida recente assustou na F1

A lista de batidas fortes com carros de Fórmula 1 na Eau Rouge é enorme, e tem nomes como Gerhard Berger (1992), Alessandro Zanardi (1993), Jacques Villeneuve (1998 e 1999) e Giancarlo Fisichella (2005).

Kevin Magnussen bateu forte na subida da Eau Rouge, no GP da Bélgica de 2016 — Foto: Reprodução

A pancada mais recente em um GP de F1 neste trecho foi em 2016. Durante o GP da Bélgica daquele ano, Kevin Magnussen perdeu o controle de seu carro e acertou a barreira de pneus com muita força. O choque foi tão intenso que a proteção de cockpit do Renault voou longe. O piloto não sofreu traumas físicos, mas o carro ficou destruído.

Alonso na pole em Spa

A pole position para as 6h de Spa-Francorchamps, prova que dá início neste sábado ao campeonato 2018-2019 do WEC, ficou com o protótipo da Toyota, revezado pelo espanhol Fernando Alonso, o japonês Kazuki Nakajima e o suíço Sebastien Buemi.

Protótipo Toyota de Alonso, Nakajima e Buemi no WEC — Foto: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images

O protótipo pilotado pelo brasileiro Bruno Senna parte da segunda posição. A corrida marca a estreia de Alonso no Mundial de Endurance, campeonato que ele vai disputar paralelamente à Fórmula 1, onde compete pela McLaren-Renault.

A famosa curva Eau Rouge, em Spa-Francorchamps, é uma das mais desafiadoras do Mundial de Endurance — Foto: Dean Treml/ Getty Images

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