Ele desistiu do futebol e virou estoquista de sapato, mas voltou, parou cidade e hoje tem nova chance no Santos

Leonardo Ferreira e Vladimir Bianchini, do ESPN.com.br

Diego Pituca chegou ao Santos B neste ano depois de se destacar no Botafogo-SP
Diego Pituca chegou ao Santos B neste ano depois de se destacar no Botafogo-SP divulgação

Aquele torcedor do Santos que gosta de assistir aos jogos das diversas categorias do clube já deve ter se surpreendido com alguns do valores na equipe B, líder de seu grupo no Campeonato Brasileiro de Aspirantes, ao lado do Atlético-MG, com seis pontos em duas partidas. Um deles, no entanto, se destaca pela técnica, pela versatilidade e pela velocidade: Diego Cristiano Evaristo.

Agora, mesmo que atento, ele pode estar se perguntando: "Quem?". Normal, afinal ele ficou muito conhecido no futebol pelo seu apelido, Pituca, surgido em 2013 de uma herança de família.


"Pituca veio quando eu fui pra Matonense. No dia em que o presidente foi me contratar, foi meu pai que conversou com o cara, e o apelido dele sempre foi 'Pituca'. Aí o cara começou a me chamar de 'Pituca' também , mas eu nunca gostei de ser chamado assim. Quando era pequeno e saia com o meu pai na rua, os outros me chamavam de 'Pituquinha'. Eu ia embora chorando (risos). Chega até a ser engraçado", explica, bem-humorado, em entrevista ao ESPN.com.br.

Mas quem vê Diego Pituca galgar espaço rumo ao time principal do Santos mal sabe que, por muito pouco, ele ficou perto de vestir a camisa branca da Vila Belmiro bem antes.

E foi escolha dele próprio.

Em 2011, quando saiu de seu primeiro time, o Brasilis , sediado em Águas de Lindoia, no interior de São Paulo, o lateral e meia desanimou. A ponto de abandonar a carreira que tanto sonhava seguir desde pequeno.

"No Brasilis, eu fui muito bem. Aí o Oscar [ex-zagueiro do São Paulo e gerente da equipe] me chamou numa sala e falou que eu ia ter a oportunidade da minha vida, que eu viria pro Santos. E, na hora, não sei o que passou na minha cabeça que eu falei que não iria mais jogar futebol. Ai ele falou: 'Você é louco você está vendo que está jogando uma oportunidade dessa fora? Muitos queriam estar no seu lugar'", conta.

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"Aí, eu falei: 'Sei, mas não quero mais jogar bola'. Quando contei isso pro meus pais, eles não acreditaram, porque eles tinham investido em mim pra quando chegasse essa oportunidade. Eu agradeci, mas deixei passar", lembra Pituca.

Os três meses seguintes foram árduos: colocava um par de sapato na prateleira de lá, tirava outro na de acolá. Sua vida começava a se tornar estafante e enfadonha.

"Trabalhei de estoquista numa loja de sapatos. Era muito ruim. Eu não ganhava dinheiro jogando bola e sempre dependia do meus pais. Isso me deixava bravo porque eu via meus amigos trabalhando e ganhando o dinheiro deles, e eu tinha que pedir pros meus pais", descreve o atual camisa 3 (e às vezes 10) do Santos B. "Mas eles nunca ligaram de me dar, lógico, quando eles tinham. Porque eu venho de uma família humilde e meus pais sempre faziam de tudo pra me ver feliz", completa.

Mas não durou muito. Finalmente o jovem Diego, aos 19 anos, percebera que o futebol realmente deveria ser seu trabalho. Não sem antes ouvir sermões atrás de sermões de seu pai, seu grande "anjo da guarda" na vida e um "quase" jogador profissional - só não foi porque seu avô não deixara.

"Meu pai começou a falar comigo e me explicar que o que eu mais sabia fazer era jogar futebol e pediu para que eu tirasse ele como exemplo".

E não deu outra: contrato assinado com o time de sua cidade, o Guaçuano, de Mogi Guaçu, em 2012, para a disputa da Série A3 do Campeonato Paulista e da Copa Paulista. Foi lá onde tudo recomeçou.

"Pensei várias vezes em parar de jogar futebol, mas dou graças a Deus pela família que tenho, que sempre me deu apoio. Por isso não parei e até hoje agradeço meu pai e minha mãe porque se estou no Santos hoje, agradeço muito a eles", comemora.

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  • Primeiro título da carreira

Se o começo da carreira foi complicado, ao menos o que veio a seguir fez tudo valer a pena.

Após se destacar pela Matonense, tanto na A3 como na A2, e pelo União São João, na quarta divisão estadual, Pituca conseguiu sua primeira chance em time de elite regional: o Botafogo, de Ribeirão Preto.

"Foi uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida. Lá, eu pude me destacar, mostrar melhor o meu futebol", recorda o jogador, que chegou também para a disputa da Série D do Campeonato Brasileiro.

Pituca se destacou no Botafogo
Pituca se destacou no Botafogo Gazeta Press

E foi justamente na quarta divisão nacional que Diego Pituca ficou em evidência. Afinal, foi dela que saiu sua principal glória na ainda curta carreira como jogador. Após uma primeira fase brigada, o time ribeirão-pretano conseguiu a classificação no grupo A6 na segunda colocação, com o mesmo número de pontos do terceiro e desclassificado Gama. Depois de passar por Crac-GO (oitavas), São Caetano (quartas) e Remo (semifinal), chegou a grande decisão, diante do River-PI.

"Sabíamos que se fossemos campeões, entraríamos para a história do Botafogo", diz.

Dito e feito: vitória por 3 a 2 no Estádio Santa Cruz na ida e o 0 a 0 seguro na volta para dar a volta olímpica.

"Quando chegamos em Ribeirão, foi só alegria... a cidade parou para nossa carreata com o troféu. Foi um momento muito especial", recorda, orgulhoso.

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  • A realização do sonho

Todo seu destaque pelo Botafogo não foi em vão. Ironicamente, foi justamente o Santos, clube que o queria seis anos antes, que se interessou pela sua contratação. Agora, não tinha como rejeitar.

Pituca defende o Santos B
Pituca defende o Santos B divulgação

"Os anos de 2016 e 2017 foram ótimos pra minha carreira. Tive bastantes propostas, graças a Deus, mas, quando chegou a do Santos, eu não pensei duas vezes. Era outra oportunidade que Deus tava me dando de mais uma vez vestir a camisa do Santos", comemora.

Hoje titular do técnico Kleiton Lima na equipe de transição, Diego Pituca é um dos cotados a subirem para o principal em 2018, ano em que o Santos provavelmente disputará  pela segunda vez consecutiva a Libertadores.

"To encarando isso como se fosse a última chance da minha vida, então eu levanto e dou graças a Deus que estou no Santos e todo dia de treino pra mim eu encaro como se fosse uma final de Copa do Mundo. Agora meu sonho é poder ver a Vila lotada, gritando meu nome isso vai ser outro sonho realizado", completa.

O Santos voltará a campo pelo Brasileiro de Aspirantes contra o Grêmio, nesta quinta-feira, às 19h (de Brasília).

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